
Vila Maria do Rosário, Colombo - região metropolitana de Curitiba (PR)
Uma linha vermelha dividira ao meio o Halyssandra tatuado nas costas. Descera pelo lado esquerdo do pescoço do pedreiro Clayton, fazendo uma leve curva para a direita até chegar ao centro da tatuagem. Recente. O sangue vazara da perfuração de bala na cabeça. Levou mais duas nos braços.
Onze e quinze da noite. O ar fedia a esparadrapo. Um borrão amarelo fingia iluminar a parada do ônibus da rua Ângelo Mocelin. Dali a meia hora, Halyssandra chegaria do trabalho. Clayton tava cabrero. Tinha se desavindo com um nóia três dias atrás — sujeito tosco, afilhado do dono da área. Clayton sabia que uma hora dessas podiam chegar e fim. Pior era a namorada zanzar sozinha àquela hora nas quebradas de Colombo.
Olhou pro relógio, faltava pouco. Um ronco esganiçado de moto assustou. Ergueu os olhos e dois djangos armados cresceram em sua direção. Três tapas seguidos de uma rasteira puseram-no no chão.
Ouvira os tiros?
Haly viu o corpo do Clayton no que desembarcou. O motorista nem quis saber, acelerou. Ficaram ela e o cadáver, esmarelidos. Morava a seis quadras dali. Ele, quatro. Vizinho nenhum abrira porta ou janela. Haly nem berrou. O choro ia por dentro, como uma doença. Girou os olhos pedindo tudo ao nada.
O fedor de esparadrapo despertou-lhe. Correu assustada pra casa.
Aos poucos foi ajuntando gente pra ver o corpo do pedreiro Clayton Marques da Silva Leite, 24.
Marcelo Velinho, “Espera namorada no ponto. Morte chega antes”. Tribuna
20/10/2009 | 00:37

Rua Ângelo Mocelin, de dia | Google Maps