[…] intenção aqui é homenagear essa forma de organização do texto, companheira do cronista aonde quer que ele vá.
(Resolvi abrir um parêntese para o parágrafo, para falar desse companheiro de toda crônica, fiel na hora de recortar o assunto, de dar ritmo ao tema da conversa, aliviando a vida do leitor ao permitir-lhe respirar em generosas alíneas, abreviado muita vezes, porém, por causa das convenções da escrita moderna, as quais sugerem ou mesmo indicam com muita veemência não serem longos, de preferência apresentando ou introduzindo um tema, desenvolvendo-o para depois finalizá-lo rapidamente e daí pensar uma conexão com o próximo, para com ele articular-se mantendo o mote da conversa, trazendo ao mesmo tempo novidades de modo a manter o leitor interessado no texto, sem contar a necessidade de alternar frases curtas e longas para não ser tentado a escrever um parágrafo de cinco ou seis linhas sem colocar um ponto para organizar o tema, algo que redatores de todo gênero e grau, do Trópico de Câncer até o de Capricórnio, estendendo-se até os polos sem esquecer a linha do Equador, condenam desde o início do século XX, sobretudo depois de o jornal, ou melhor, de a redação jornalística ter passado a ser o modelo de escrita nos centros mais modernos, primeiro os urbanos, espalhando-se em seguida pelo interior desse mundão ocidental, a oeste, ao norte, ao sul e a leste, pois não me arrisco a falar dos orientes da Terra, dada a minha paragrafal ignorância, suficiente apenas para relatar os havidos e os haveres do Pilarzinho, em Curitiba, e dos livros lidos por aqui, como os dos autores desavergonhados de estender seus parágrafos para além de meia página, ou uma inteira ou mesmo mais de uma, como o crítico Roberto Schwarz ou como o poeta e crítico Alcides Villaça, quando trata do poeta Drummond de Andrade, num livro fininho mas poderoso, em boa parte poderoso porque desenvolve comentários alentados sobre o escritor mineiro nos quais os argumentos vão se encadeando uns nos outros à força de interpretações e paráfrases, sem pressa, sem vontade de lacrar, muito ao contrário na verdade, pois caminha com a paciência do conceito, da interpretação, a qual só pode vir após muita consideração e articulação suficientes para não se desmancharem a golpes de tuítes, os quais têm prestado a muita coisa menos para argumentar ou explicar algo, ou quando se presta a isso obriga-se a trair a própria forma, ou seja, escreverem-se vários tuítes amarrados por um fio, chamado de thread, que nada mais são do que a forma parágrafo empregada num gênero cuja pegada é sintetizar a mensagem numa frase ou numa oração só, o que não tem servido, parece, às demandas de comunicação do povo das redes sociais, cada vez mais falastrão, contrariando, creio, o dono do Twitter, cujo nome desconheço, mas as chances de vir a ser o Bezos ou o Zuckerberg amanhã são grandes, coisa sem importância para essa crônica-parágrafo, diga-se, porque a intenção aqui é homenagear essa forma de organização do texto – que aliás é um sinal de pontuação, chamado antigamente de ponto-parágrafo e marcado por um sinal ao lado do seu início, diferente de hoje, quando podemos usar o espaço em branco para sinalizar o seu fim ou o seu começo (ufa, consegui usar um travessão, um excelente recurso para escrever sentenças e parágrafos longos) –, companheira do cronista aonde quer que ele vá, merecendo ser lembrada nesses tempos em que o parágrafo confunde-se com uma frase ou oração de tão magrinho que vem sendo escrito por aí.)
* Imagem acima extraída de "O papel Nosso de Cada Dia e a Biblioteca Digital Mundial" (Disponível em: <https://incunabulos.wordpress.com/2019/11/29/o-papel-nosso-de-cada-dia-e-a-biblioteca-digital-mundial/>. Acesso em 4 jul. 2020).
meu cavalo por um ponto…. ufa!
que período!
*salvio nienkotter*
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boa! indo contra tudo que falo em sala de aula hehehe Abração
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meu cavalo por um ponto…. ufa! — Vou usar isso com os meus alunos!
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Minha natureza asmática não suporta ausência de parágrafos mas consegui ir até o fim desta crônica do mestre dos mistérios da linguagem morador da mais bela casa do bairro curitibano de Pilarzinho com seus bichos estranhos ufa! Um parágrafo por favor e meu voto para Eugenio como o Novo vampiro de Curitiba uffffffa!!!
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Ih, tem muitos candidatos aqui a vampiro, eu sou o menos indicado. Sou só cronista, Mas vc leu Proust de cabo a rabo. Esse meu parágrafo não é nada perto dele, Beijos
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Desavergonhado mesmo esse parágrafo, heim? e ainda vem dentro de um parêntese!!! E, como tudo que é desavergonhado, gostoso que faz faltar o ar. Também quero um desses pra chamar de meu. Beijinho
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