Não gosto de barulho. Nem por isso deixaram de parir mais um por estas bandas do Pilarzinho. Ou melhor, reciclar: o ruído é o mesmo; a função, outra. É a recém-batizada por mim buzinaplauso ou buzina-aplauso - aglutinada ou com hífen, como preferirem. Explico. Converteram a Pedreira Paulo Leminski num draivinzão. Um público a quatro…
Crônica;
Vade retro
Sair de casa tem sido uma lástima. Não deveria. Deveria ser uma epifania. Mas é húmus pra úlcera, novelo de pesadelo. O ruim começa nos óculos embaçados por causa da máscara, segue com a esfregação do álcool em gel e culmina no medo de aproximar-se das pessoas. Mas saí. Obrigava-me o exame médico para renovar…
Lira de empréstimo
O poético esmalta a membrana desta hora em que esquecemos do trabalho, do dinheiro e da morte. Hoje é daqueles dias de escrever poema. Luzes fotografam árvores, cães riscam a película que reveste a tarde, pássaros pretos de bicos cor de madeira esmerilham o ar com asas de aço. Dia pra poema, não pra crônica.…
Crônica-parágrafo
[...] intenção aqui é homenagear essa forma de organização do texto, companheira do cronista aonde quer que ele vá. (Resolvi abrir um parêntese para o parágrafo, para falar desse companheiro de toda crônica, fiel na hora de recortar o assunto, de dar ritmo ao tema da conversa, aliviando a vida do leitor ao permitir-lhe respirar…
Esponja velha
Mas de que serve, calejada leitora, calejado leitor, escrever sobre uma esponja velha quando ontem morreram mil pessoas e amanhã morrerão mais mil? Enternece-me a esponja velha. A que singra litros de gordura animal, percorre quilômetros de fibras vegetais, esfalfa-se em meio a arrobas de farinha de todo grau e, molenga, aporta na praia. A…
Não vai colar
Não me conformo é com o sarcasmo: pregar a sentença de morte no corpo da sentenciada. Ministério Público Estadual do Paraná manda suspender o corte de 231 araucárias em Cascavel. Pretendia-se abater mais de duas centenas de árvores no meio da pandemia. Agora, em maio. Meses antes, em janeiro, 4 mil "exemplares arbóreos" no Jaraguá,…
Leminski Road
Gosto de pensar que os aclives e declives do bairro tenham se infiltrado nos versos que o poeta escreveu por aqui de 1976 a 1988 Esta crônica começa pendurada na anterior. Segue pelos despenhadeiros do Pilarzinho. Se você chegou agora ao Letra Corrida, alcoogeleizada leitora, alcoolgeleizado leitor, Pilarzinho é um bairro que escapa para o…
A rua da minha aldeia
O nome esquisito da rua vem da leva de alemães que povoaram os ermos daqui. O homem anda. Com sílex, facão, peixeira, foice ou retroescavadeira, esse bípede sem plumas abre carreiros, boqueirões, veredas, trilhas, sendas, sendeiros, vielas, vias, ruas, estradas e autopistas. Ou mesmo binários, rápidas e trincheiras, variantes curitibanas. Mas o hábito de andar…
Alcoolgeleização da vida
O cronista busca assunto em meio à quarentena provocada pelo Covid-19 Nada pior para uma cronista do que não poder sair de casa. A menos que ele seja um Rubem Braga ou um Drummond, cujas vidas são uma Beijing de histórias. Pra você ter uma ideia, confinada leitora, confinado leitor, num mesmo livro* o cronista…
O moinho e a bala
Dando tiro pra tudo quanto é lado, o povo da rua vai tentando driblar a mó que há séculos os tritura sem descanso. De uns tempos pra cá o povo da rua tá bombando. Mais gente dormindo na calçada, mais homens e mulheres e crianças vendendo frutas, legumes, protetores de celular e – acima de…