De zigue-zague em zigue-zague chega-se aonde?

para Orides Fontela e Peter    Um polaco velho cresceu vindo da esquina. Balançando cabeça e braços, avançou na direção do ponto de ônibus, não parou, passou, comeu uns metros de calçada, voltou, murmurou algo, pisou forte até a esquina de onde surgiu, retornou, refez o caminho, assim até o Bracatinga chegar. Uma máscara preta…

Estranhos, encantadores e desgovernados

Peter entrava pela cozinha vindo do quintal, sentava-se, bufava, discursava para o nada, levantava-se, varava a porta que dava pro corredor, seguia em frente, atravessava a sala ao som de "O Que Será?", do Chico Buarque, baixava na garagem e saía para rua 13 de maio onde eu morava em São Paulo, na década de…

TPE – Tensão Pré-Eleitoral

Escrevo dois parágrafos, paro, clico na aba do Twitter, abro video, compartilho, fecho, reviso duas laudas, fecho, abro a aba de portal de notícia, leio, Pesquisa só às 18h, fecho o portal, respondo e-mail, conversa no chat da firma, dois BOs resolvidos, respiro, tomo café, não, o café acabou, levanto, água no bule, o pó,…

Passarinho na nuca do malvado

Ele queria conversar. O livro na cesta do assento da frente foi pretexto. Me pediu pra ler. Estava em português. Desolé. Mas lembrei de um em francês na bolsa. Mostrei pra ele. Viu o título, Noirs dans les camps nazis, achou pesado — sem deixar, no entanto, de expressar sua repulsa aos nazistas e ao presidente brasileiro.…

É verdade este bilete

O dia não está instagramável. Flopou geral. Enfiou-se numa geladeira cósmica com a gente tudo dentro. Cenário e figurinos trabalhados no cinza chumbo, cinza melancolia, cinza depressão. Opa, freezando, antes de isso acabar numa urna funerária. É hora de puxar outro neologismo das entrelinhas, e photoshopar o ambiente pra seguir o dia e biscoitar algo…