João Saldanha morou na capital do Paraná. Quem conta isso é o jornalista Luiz Geraldo Mazza em "Curitiba é ciosa do seu ócio?", ensaio que li na fila de espera de um restaurante japonês. Saldanha passou por Curitiba em 1923 vindo de Alegrete. Era um piá de bosta ainda, como dizem por aqui, tinha seis…
Crônica;
Peso bruto
"...a derrota da estabilidade de cada um em ser eu" Macedonio Fernández, Museu do romance da Eterna -- Sessenta e um anos, um metro e setenta e seis, oitenta e quatro quilos, respondia, robótico. Enfermeiras, anestesistas, médicos, técnicos de enfermagem e socorristas de ambulância pediam-lhe essas medidas em cada atendimento que faziam. Fora o escrutínio…
Cachorro louco das palavras
ao Dalton Trevisan, com um abraço do Campos de Carvalho – Sarou, tanto que se suicidou!, diz, à mesa, sem desarranjar os cabelos grisalhos. A amiga encolhe-se a cada palavra. Pudera, chove um decassílabo moral atrás do outro sobre ela. Um senhor ao lado veste o impermeável. Tem ele nada com isso, remediar pior que prevenir.…
Sai de baixo
-- Ele foi pro time, alguém rebaixou, parece -- explicou C., técnica de enfermagem, a B., paciente que aguardava um médico no Pronto Atendimento do Hospital V. A técnica seguiu no cuidado com os doentes da sala como se tivesse dito o óbvio. Impaciente, A. rogou pelo significado da charada à C. -- Time é…
Subimos no telhado II
"Havia um telhado no meio do caminho, no meio do caminho havia um telhado", relinchou o bardo equino. Em 2021, um simpático cavalo arrebentou a cobertura de uma repartição municipal de Aricanduva que insistia em limitar-lhe o pasto. Três anos depois, um teto de zinco sustentou Caramelo por quatro dias em Canoas, no Rio Grande…
Outono?
Tá tudo solto na plataforma do ar. Uma luminosa melodia encanta o olhar, o azul expande edifícios, casas e formas sábado cedo. Forças em suspensão, as horas gravam-se sonolentas, o mundo imprime-se desapressado. Freia-se o verão, que bate na coluna silenciosa da nova estação, resfriado no presente imóvel. Na outra margem, o frio assobia longe.…
Tarântulas, caranguejos e gruas
"tive coisas impróprias na/ dando dentro dele/ pós, pedras, medos,/ remédios, tiranias" Tatiana Roque Sonhei que estava indo atrás de aranhas. Desço uma escada, sigo por um corredor que corta repentinamente à esquerda, ando mais um pouco e “aqui estão elas!” Há uma grande vitrine, água, areia, pedras e bichos. meio aquário, meio terrário. Vejo…
Noturno do Pilarzinho
Onde começa, onde termina o Pilarzinho? Na rua Manife Tacla os grilos armam uma rede encantatória no ar. As luzes pálidas dos postes de iluminação compõem a noite provinciana, aqui e ali engrenada na roda contemporânea pelo escapamento aberto de uma motocicleta de deliveri. A lua cheia carimba o horizonte apertado pelos morrotes do bairro,…
Armas, munições e bordados
O título aí não é meu. Está na placa de uma loja de material militar na praça José Borges de Macedo, no Centro de Curitiba. O que faz a palavra bordados aí, você pergunta. Um código? Sarcasmo? Uma sugestão para o cliente conter-se? Atirar mais delicadamente? Tiroteios cool? O barbeiro Apulcro discorda -- É uma…
Vísceras à vista
Já passou por uma colonoscopia? Relaxe, não é tão ruim como te disseram, nem é um passeio. Tem dois episódios: o Preparo e o Exame. Mais longo e penoso o primeiro, ligeiro e indolor o segundo. O preparo começa dois dias antes do exame, nada de ingerir grãos -- aveia, feijão e assemelhados. Sem pedras…









