Outono?

Tá tudo solto na plataforma do ar. Uma luminosa melodia encanta o olhar, o azul expande edifícios, casas e formas sábado cedo. Forças em suspensão, as horas gravam-se sonolentas, o mundo imprime-se desapressado. Freia-se o verão, que bate na coluna silenciosa da nova estação, resfriado no presente imóvel. Na outra margem, o frio assobia longe.…

Noturno do Pilarzinho

Onde começa, onde termina o Pilarzinho? Na rua Manife Tacla os grilos armam uma rede encantatória no ar. As luzes pálidas dos postes de iluminação compõem a noite provinciana, aqui e ali engrenada na roda contemporânea pelo escapamento aberto de uma motocicleta de deliveri. A lua cheia carimba o horizonte apertado pelos morrotes do bairro,…

Armas, munições e bordados

O título aí não é meu. Está na placa de uma loja de material militar na praça José Borges de Macedo, no Centro de Curitiba. O que faz a palavra bordados aí, você pergunta. Um código? Sarcasmo? Uma sugestão para o cliente conter-se? Atirar mais delicadamente? Tiroteios cool? O barbeiro Apulcro discorda -- É uma…

Mestres-salas dos ares

São dois Acir. Um é pintor, outro jardineiro podador. Franzino um, baixo e forte o outro. Sabem a arte de subir sem cair, "descem olhando pra cima, sobem espiando pra baixo", como escreveu um poeta peruano. Conhecemos o Acir pintor quando construímos nossa casa. Ele apareceu na terça-feira gorda da obra. Os pedreiros deixavam a passarela,…

Pintou um clima II

Um teclado verde suspenso no ar. Folhas de todos os tons, formas e combinações. Tocam para os olhos. As da Ameixeira são grossas, verde-escuras, abrem-se em taças. A Manuel-Pintado as tem claras e delicadas; plugadas em caules mínimos, fingem flutuar. Outras, longas e flexíveis, remam o vazio num galho horizontal. As nuvens amarram a luz,…