ao neoliberalismo, que nos mói sem trégua Do Pilarzinho até o Aeroporto em São José dos Pinhais, Claudinei narrou-me seu amor (seletivo) ao cinema. Só gosta de filmes históricos ou de vampiro. Se superproduzidos, melhor. À medida que a conversa se desenrolava, notava que estava diante de um amador profissional. Amador, porque nos dias de…
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Natal à vista
-- É o cortador da receita da Ana Maria Braga! -- assim terminava a publi do vendedor no vagão do metrô paulistano. Com habilidade invejável, cortava, descascava e picava brócolis, rúculas, cenouras, enquanto o veículo seguia rumo à estação Carrão da Linha Vermelha. De uma sacola grande, como aquelas de tenista, saía um saco de…
Terreno Baldio
Nâo anda boa a reputação do terreno baldio. Uma pesquisa rápida na internet o acusa de abrigar vagabundos, promover estupros e esconder cadáveres, além de promover a alegria de mosquitos, baratas e ratazanas. Achei pesado. Mas foi bom saber que essa instituiçao nacional resiste. Acreditava estar esquecida, só habitasse os porões neuronais de indivíduos 60+…
Terça-feira gorda
Do nada, um passista fora de época desfila pela praça Santos Dumont em direção à rua Ébano Pereira. Sem camisa, enrolado num vaporoso tecido de cetim, requebra os quadris sujos para a estátua do aviador nacional. No rastro dele, espoca outra ala. Três mulheres de hijabs azuis despencam da Ébano Pereira em bicicletas alugadas. Mal…
O sol por testemunha
O sol paulistano assa o ciclista do IFood no viaduto Pompeia. A maratonista amadora consulta o relógio e projeta o olhar na longa e deserta ciclovia da avenida Sumaré. O sol do Vale do Paraíba paulista transforma o ar da rodovia Ayrton Senna em cola. Quente, ele gruda nas costas dos trabalhadores que recapeiam, perto…
Quando os (hot) dogs sonham
O sonho do Dog da Vani começa no pomar das gôndolas fosforescentes. Dog compra uma buzina e dois escapamentos furados, um de moto, outro de Kombi 76. O pomar derrete e vira açúcar derramado num pão gigantesco, onde Dog negocia os acessórios recém-adquiridos. O comerciante pergunta "Só isso? E o Samba de Orly? O Mais…
Vergonha
"Desculpa de aleijado é muleta". Cresci ouvindo (e falando) essa expressão. Era corrente na década de 1970, em São Paulo. Adultos e crianças a espalhavam, sem culpa. Um bando de Rogers do Ultraje a Rigor com a lingua solta. Havia muita gente de muleta nos faróis e nas calçadas atrás de esmola. Uns andavam com…
Do colarinho aos pés
Contei pra ele o que ia no Negroni.-- Não sabia! Um minitonel metálico de quarenta centímetros de altura por vinte de diâmetro guardava o coquetel ao lado do caixa na pequena e movimentada pizzaria da Fradique Coutinho, em São Paulo. O valor da dose, quinze reais, era anunciado na superfície do tonelzinho por uma caneta…
Próxima Estação
O rímel escurece e avoluma os cílios. Um pincel os estica em gestos secos e compassados. O celular flutua em frente ao rosto, serve de espelho à passageira ao lado, às seis da manhã na linha amarela do metrô. Veste um tailleur funcional cinza, passa dos trinta, distante um tanto dos quarenta. Finalizada a maquiagem,…
Mapa incidental
Marginal Tietê -- Se o senhor ganhasse na loteria, faria o quê? Mal terminou a pergunta, esterçou o volante, mudando de pista. O táxi saltava de uma faixa pra outra como um gato, despertando a marginal Tietê às seis da manhã. Antes de chegarmos na Vila Madalena, conheci as artimanhas do mundo financeiro. Ex-gerente de…









