João Saldanha morou na capital do Paraná. Quem conta isso é o jornalista Luiz Geraldo Mazza em "Curitiba é ciosa do seu ócio?", ensaio que li na fila de espera de um restaurante japonês. Saldanha passou por Curitiba em 1923 vindo de Alegrete. Era um piá de bosta ainda, como dizem por aqui, tinha seis…
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Cachorro louco das palavras
ao Dalton Trevisan, com um abraço do Campos de Carvalho – Sarou, tanto que se suicidou!, diz, à mesa, sem desarranjar os cabelos grisalhos. A amiga encolhe-se a cada palavra. Pudera, chove um decassílabo moral atrás do outro sobre ela. Um senhor ao lado veste o impermeável. Tem ele nada com isso, remediar pior que prevenir.…
Sai de baixo
-- Ele foi pro time, alguém rebaixou, parece -- explicou C., técnica de enfermagem, a B., paciente que aguardava um médico no Pronto Atendimento do Hospital V. A técnica seguiu no cuidado com os doentes da sala como se tivesse dito o óbvio. Impaciente, A. rogou pelo significado da charada à C. -- Time é…
Outono?
Tá tudo solto na plataforma do ar. Uma luminosa melodia encanta o olhar, o azul expande edifícios, casas e formas sábado cedo. Forças em suspensão, as horas gravam-se sonolentas, o mundo imprime-se desapressado. Freia-se o verão, que bate na coluna silenciosa da nova estação, resfriado no presente imóvel. Na outra margem, o frio assobia longe.…
Noturno do Pilarzinho
Onde começa, onde termina o Pilarzinho? Na rua Manife Tacla os grilos armam uma rede encantatória no ar. As luzes pálidas dos postes de iluminação compõem a noite provinciana, aqui e ali engrenada na roda contemporânea pelo escapamento aberto de uma motocicleta de deliveri. A lua cheia carimba o horizonte apertado pelos morrotes do bairro,…
Armas, munições e bordados
O título aí não é meu. Está na placa de uma loja de material militar na praça José Borges de Macedo, no Centro de Curitiba. O que faz a palavra bordados aí, você pergunta. Um código? Sarcasmo? Uma sugestão para o cliente conter-se? Atirar mais delicadamente? Tiroteios cool? O barbeiro Apulcro discorda -- É uma…
Alegria, Alegria
Um calor de Momo em Curitiba. A avenida Marechal Deodoro desborda de gente. Na comissão de frente, César e o seu cooler. Torcedor da Escola de Samba Mocidade Azul, ele fixa os louros e os tornozelos parafusados atrás da baia onde se distribuem copos d'água para o povo e o estafe do desfile. Soberano, nos…
Mestres-salas dos ares
São dois Acir. Um é pintor, outro jardineiro podador. Franzino um, baixo e forte o outro. Sabem a arte de subir sem cair, "descem olhando pra cima, sobem espiando pra baixo", como escreveu um poeta peruano. Conhecemos o Acir pintor quando construímos nossa casa. Ele apareceu na terça-feira gorda da obra. Os pedreiros deixavam a passarela,…
Pracabá
I. Um paisagista no Copan Um metro e oitenta e pouco, nariz clássico, barba e cabelos encaracolados e pretos. Bonito. -- Sou descendente de sírio-libaneses, disse. O nome, meio grego, não conseguimos entender. Vestia roupas escuras e segurava um saco de lixo preto, de sessenta litros, quase vazio. A sola dos pés e os dedos…
Roda Viva
Parafusaram uma imensa roda gigante no calçadão da XV. Espremida entre os prédios vizinhos à Praça Osório, ela ocupa quase toda largura da rua. Os pedestres vão e vem pelas laterais no apertado espaço que sobrou para circularem. A roda alcança vinte metros, mais ou menos a altura de sete andares dos edifícios próximos. Tem…









