Cachorro louco das palavras

ao Dalton Trevisan, com um abraço do Campos de Carvalho – Sarou, tanto que se suicidou!, diz, à mesa, sem desarranjar os cabelos grisalhos. A amiga encolhe-se a cada palavra. Pudera, chove um decassílabo moral atrás do outro sobre ela. Um senhor ao lado veste o impermeável. Tem ele nada com isso, remediar pior que prevenir.…

Outono?

Tá tudo solto na plataforma do ar. Uma luminosa melodia encanta o olhar, o azul expande edifícios, casas e formas sábado cedo. Forças em suspensão, as horas gravam-se sonolentas, o mundo imprime-se desapressado. Freia-se o verão, que bate na coluna silenciosa da nova estação, resfriado no presente imóvel. Na outra margem, o frio assobia longe.…

Noturno do Pilarzinho

Onde começa, onde termina o Pilarzinho? Na rua Manife Tacla os grilos armam uma rede encantatória no ar. As luzes pálidas dos postes de iluminação compõem a noite provinciana, aqui e ali engrenada na roda contemporânea pelo escapamento aberto de uma motocicleta de deliveri. A lua cheia carimba o horizonte apertado pelos morrotes do bairro,…

Armas, munições e bordados

O título aí não é meu. Está na placa de uma loja de material militar na praça José Borges de Macedo, no Centro de Curitiba. O que faz a palavra bordados aí, você pergunta. Um código? Sarcasmo? Uma sugestão para o cliente conter-se? Atirar mais delicadamente? Tiroteios cool? O barbeiro Apulcro discorda -- É uma…

Mestres-salas dos ares

São dois Acir. Um é pintor, outro jardineiro podador. Franzino um, baixo e forte o outro. Sabem a arte de subir sem cair, "descem olhando pra cima, sobem espiando pra baixo", como escreveu um poeta peruano. Conhecemos o Acir pintor quando construímos nossa casa. Ele apareceu na terça-feira gorda da obra. Os pedreiros deixavam a passarela,…