Jerusalém

JERUSALÉM, de Gonçalo M. Tavares

Livro estranho. Estranheza que vem da rarefação. Os contextos das ações são mínimos. E há muitos cortes entre elas. Recuos, Saltos, Saltos, Recuos.

O narrador organiza a história por meio das personagens. Ele as apresenta nos títulos dos capítulos e com o correr da trama as recoloca em diferentes combinações. Arranjos alertados pelos títulos. Os nomes das personagens dão as balizas da narrativa: Capítulo 1 – Ernst e Myla; Capítulo 2 – Theodor; etc.

Só dois capítulos não levam nomes de personagens: “Os loucos” e “Europa 02”.

Ernst, Myla e Theodor, um trio amoroso agonístico. Theodor é um médico renomado, obcecado pela história do Horror; Myla, sua esposa, que diz ver a alma dos outros, é dada como louca; e Ernst, o amante.

Theodor conhece Myla no consultório, levada pelos pais dela: “A nossa filha não tem saúde”. Ele se casa de pronto com ela. Com igual rapidez a interna num manicômio, onde Myla conhecerá Ernst, com quem terá um filho – Kaas. Esse vai ser arrancado do casal manicomial e (mal)assumido por Theodor.

A narrativa é de cinema.

O primeiro capítulo, como Pulp Fiction, é o início da cena da resolução final. Ernst está prestes a se matar quando ouve o toque do telefone. É Myla, que liga para ele da rua, agoniada por uma forte dor. No segundo capítulo, Theodor está na rua, no mesmo dia, de madrugada. Irá encontrar uma prostituta, Hanna. Kaas também está na rua à procura do pai. Hanna, por sua vez, é meio amante de HInnerk, que também sai nesta noite para encontrá-la.

O fim do livro é a resolução dessa cena. Que o leitor entenderá por meio dos recuos no tempo que explicarão o que fazem todos ali no sereno da madrugada e por quê.

Ah, o livro chama-se Jerusalém. Por quê? Isso é muito pra essa resenha.

Fica pruma outra, ou pra nunca mais.


Jerusalém, Gonçalo M. Tavares (Cia das Letras, 2006)

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