Sonho meu*

Acabo de ler a transcrição de um sonho de 2013. Dez anos atrás, só agora caiu a ficha. Veja por que no parágrafo abaixo.

Começa o sonho: queria escrever mas o computador não ligava. Meu pai me empresta um, branco. Vou digitar, tocam a campainha. Vou  atender e vejo um menino fugindo. Corro atrás, ele entra na casa vizinha. Passo por corredores, portas de vidro, entro também. Ele está com a mãe dele, Dou uma bronca nela, ela retruca, diz que o menino é perturbado, me repreende. No próximo esquete do sonho, o menino está correndo na sala, eu o agarro e mando parar como se estivesse lidando com meu cachorro. Ele para e tomo outra bronca de sua mãe. No fim, não escrevo nada.

Se a leitora me seguiu até aqui, sabe que o garoto sou eu. Um danado de um menino, moleque fujão, perturbado, protegido da mamãe. Do pai, ganha um computador para escrever. Branco e “em branco”. Pronto para a escrita e ausente de escrita. O fato é que o sonho me mandava uma mensagem cristalina, eu fugia da atividade escrita, atividade que me acompanha de forma intermitente desde a adolescência. Somente seis anos depois do sonho, em 2019, começo a escrever regularmente, quando crio o blog Letra Corrida.

Letra Corrida?

A leitora já entendeu. O nome deste blog estaria em alguma gaveta do inconsciente, que se abriu no dia em que o escolhi? Escolhi? Escorregou do sonho pra cá? Me acompanha, cara leitora. A crônica é um gênero rápido, breve. José de Alencar nomeou a coluna dele na década de 1850 de “Ao correr da pena”. O blog é um suporte fácil de mexer onde se publica rapidinho. Texto terminado, bastam algumas configurações e a crônica fica disponível para o leitor. E corre-se para escrever, toda semana é preciso postar um texto. Essa correria para na pubicação. Publicar nada mais é que adestrar um texto de acordo com convenções editoriais, literárias, ou morais. Meio assim, pode correr, mas com arte, não por medo. O sonho deu todos os comandos, demorei uma década para entendê-los.

E tudo isso tem pai e mãe, letra por letra. Herdei o gosto pela literatura de minha mãe, professora de português e francês, poeta, quatro livros publicados, preparando o quinto aos noventa anos. Do pai, morto em 1987, o prazer de ler jornal (ele o lia de ponta a ponta), e o interesse pela política. No sonho, ela me cobra, bronqueia, “dá um jeito nisso, menino!” Me dá a letra. Ele me dá o lugar de onde partir, o blog, suporte para a crônica, gênero jornalístico. Esse sonho não é só obra, creio, dos meus desejos inconscientes, mas também de mensagens de meus pais, transmitidas por um canal qualquer, usando protocolos incomuns, entrando na minha rede neural sabe-se lá como.

Sonho meu?


* Ou "Como o nome deste blog foi criado há dez anos sem eu saber“. Quadro "O sonho", de Picasso (1932)

4 comentários em “Sonho meu*

      1. Vamos.

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        div>Me manda um whatsapp e combinamos

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        Bia 

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