Começou a temporada do abate. Abate de árvores em Curitiba. O quase ex-prefeito Rafael Greca resolveu serrar uma centena delas no Tarumã e no Santa Quitéria para dar passagem a carros e ônibus. Perfeito. Tem coisa melhor do que isso pra contribuir com o aquecimento da Terra? Já que o inverno local incorporou a icônica timidez do curitibano e cada vez menos dá as caras por aqui, nada melhor do que abrir caminho ao Carro de Apolo, deixando-o deitar e rolar pelas rápidas, canaletas e binários desarvorados que estruturam a capital modelo do Paraná. Seguir tendências, é sobre isso.
E o Pilarzinho, mesmo modestamente, não poderia deixar de surfar nessa onda. Ignoro se isso é um fenômeno de mindset ou se há startups engajadas no processo. Sei que atrás do condomínio Larine, na Francisco Caron, uma dúzia de árvores nativas, de um bosque, foi derrubada em prol, suponho, da limpeza, da claridade e do bem estar dos moradores. A Pref, como se diz por aqui carinhosamente, autorizou o abate. Tudo certo, checamos, Secretaria do Meio Ambiente chancelou. Também não se pensou na fauna local — esquilos, gambás, jacus, porcos-espinhos, entre outros –, o que me pareceu acertado, afinal a cidade não é lugar para eles.
Apulcro, conhecido deste cronista, correu para conhecer os simpáticos moradores do conjunto residencial. Há ali daquelas motocicletas cujo som do escapamento pode ser escutado em Saturno, muitas bandeirolas do Brasil espetadas no carros e outras grudadas nas janelas. Ninguém o recebeu, mas nada de mágoas, disse ele, — Há muita árvore pra derrubar aqui no baiirro, farei outros amigos.
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Depois de deixar o bar da Vilma e do Ulysses no alto da Francisco Caron, demos de cara com um interessante salão de cabeleiros. Em vez da placa clássica, oferecendo cortes de cabelo, barba e tintura, o estabelecimento exibia uma faixa no portão com três chamadas de produtos diferenciados. O primeiro nos surpreendeu: Botox Capilar. Apulcro e o Barrigudinho Careca por um Triz animaram-se. Não sei o que o calvo Ulysses, portador de uma calva de frei bem desenhada e brilhante, diria do comércio vizinho. Não a frequenta, certamente. Mas já o havíamos deixado pra trás.
Progressiva orgânica e Coloraçao raiz vinham logo abaixo, completando a faixa. Essas estranhas combinaçoes vocabulares me intimidaram, não tive coragem de entrar. Temi que Apulcro o fizesse. Vesti o impermeável. Os perdigotos saltavam no ar misturados a um chumaço de palavrões atirados contra aquela linguagem moderna que tanto o irrita. O barrigudinho careca resolveu o impasse fuçando no Google. Estávamos enganados. Não era para carecas. Mas para gente com cabelo. Ulysses nada tinha nada a dizer, portanto. Só depois reparamos nos subtítulos: Cabelos até a linha do sutiã! É um tratamento pra quem já tem cabelos e pra mulheres. — Calvos, out!
Indignados, pegamos a banguela nas ladeiras do Pilarzinho. Pensei em ligar para o professor Marcelo Módolo, me explicar essas expressões todas, pois o barrigudinho me disse que no primeiro tratamento, apesar do nome, não vai Botox e, no último, não entendeu se raiz é adjetivo (uma coloração feita com técnicas medievais) ou economizou-se na preposição.
— Alô, Marcelo?
* Foto minha/Pilarzinho, Curitiba.
