Três saguis passaram a nos visitar desde o final do ano passado. Uma pequena e simpática família. Não que eu seja um primatólogo, mas pelos portes e gestos resta pouca dúvida que não sejam um casal e seu rebento. Sabia que vários deles viviam no Bosque do Pilarzinho, mas não davam as carinhas por aqui. São muito bem-vindos, mas especulo que essa aparição regular não ocorra por bons motivos.
Para chegarem a nossa casa, os primatazinhos devem atravessar uma rua movimentada vindos do Bosque e se embrenhar nas matas que sobem até a rua Rolf Faria Gugisch, onde moramos. Há muita árvore por aqui ainda, mas aos poucos estão sendo substituídas por areia, cimento e tijolos. Um conjunto residencial de médio porte já se criou na rua acima da nossa, na Francisco Caron, onde havia uma bela mata, com araucárias e outras espécies nativas. Ela está sendo customizada para se enfiarem dois blocos de apartamentos batizados de Ekko. Não sei bem se o K está ali para remeter-se ao grego ou é uma forma de glamourizar a ecologia de araque do projeto.
Pra piorar, fincaram uma baita placa anunciando Vende-se — Projeto Aprovado em frente a uma densa e bela mata de doze mil metros quadrados, vizinha a Ekko. Há nesses milhares de metros quadrados muita árvore, cujos troncos e galhos a família sagui deve frequentar. Mas não acabou. Subindo de novo para a Francisco Caron, na esquina com a Nilo Peçanha, outra placa anuncia mais um empreendimento em frente a uma bela e generosa mata, na qual pequenas clareiras vêm sendo abertas silenciosamente.
Esse pedaço do Pilarzinho entre a Nilo Peçanha e a Amauri Lange tem um relevo acidentado. Há ruas bastante irregulares, ladeiras íngremes, ruas sem saída, largas calçadas gramadas, algo que favoreceu a paz e uma lenta ocupação da região. E preservou boa parte de sua cobertura vegetal, que agora caiu na malha grossa dos fundos imobiliários que vêm atropelando flora e fauna locais.
Daí a explicação para as recorrentes visitas dos saguis a nossa casa. Os animaizinhos perceberam a encrenca e especulam onde poderão seguir suas vidinhas primatas cercados de ekkovilas. A mata vizinha à nossa casa está protegida por lei por ser um fundo de vale — até prova em contrário. Ela é modesta e se os outros bosques forem sendo derrubados, pouco espaço e comida restarão para os pequenos micos e toda a fauna urbana que por muitas décadas vive no bairro.

Se essa praga da especulação imobiliária chegou até a capital urbanística do país, imagine como estamos aqui na sua, nossa Sampa… Dramático. Abração!
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Felizmente aqui o ritmo é mais lento e a grana é mais curta que aí. São Paulo está um disparate, cada vez que eu vou prai derrubam um quarteirão. Pelo menos na ZOna Oeste. É de chorar.
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