Um retângulo de papelão escrito Fome. Nem seis graus Celsius, quem abre a janela do carro à noite, no cruzamento da Cândido de Abreu com a Barão de Antonina, prum sujeito sem carnes, pardo, segurando uma placa chinfrim destas? Nem a pau, num frio do djanho desses, Vai trabalhar! Eu não trabalho!, grasna o Pelicano…
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Saltando fora
Três saguis passaram a nos visitar desde o final do ano passado. Uma pequena e simpática família. Não que eu seja um primatólogo, mas pelos portes e gestos resta pouca dúvida que não sejam um casal e seu rebento. Sabia que vários deles viviam no Bosque do Pilarzinho, mas não davam as carinhas por aqui.…
Terreno Baldio
Nâo anda boa a reputação do terreno baldio. Uma pesquisa rápida na internet o acusa de abrigar vagabundos, promover estupros e esconder cadáveres, além de promover a alegria de mosquitos, baratas e ratazanas. Achei pesado. Mas foi bom saber que essa instituiçao nacional resiste. Acreditava estar esquecida, só habitasse os porões neuronais de indivíduos 60+…
Nelson e Clementina
Estavam ali antes da gente. Os pedreiros que começaram a levantar a casa, aqui no Pilarzinho, em 2017, foram o seu primeiro contato. Mal interagiram, porém. A falta de interesse era recíproca. Os empreiteiros eram pragmáticos, quatro ou cinco irmãos. Contratados pela construtora, quanto antes terminassem o serviço, melhor. Para eles e para a empresa,…
Cortes
Começou a temporada do abate. Abate de árvores em Curitiba. O quase ex-prefeito Rafael Greca resolveu serrar uma centena delas no Tarumã e no Santa Quitéria para dar passagem a carros e ônibus. Perfeito. Tem coisa melhor do que isso pra contribuir com o aquecimento da Terra? Já que o inverno local incorporou a icônica…
As voltas que Curitiba dá
"A cidade orgulhava-se de sua praça, com igreja, hospital, farmácia, loja de armarinho, retratista, dois carros de aluguel e, no canteiro de rosas, o busto do herói." Dalton Trevisan, "Morte na praça" A estátua de Ébano Pereira desdenha o pobre-diabo caído junto ao pedestal. O desventurado resmunga algo para o impassível General das Canoas, ergue…
Noturno do Pilarzinho
Onde começa, onde termina o Pilarzinho? Na rua Manife Tacla os grilos armam uma rede encantatória no ar. As luzes pálidas dos postes de iluminação compõem a noite provinciana, aqui e ali engrenada na roda contemporânea pelo escapamento aberto de uma motocicleta de deliveri. A lua cheia carimba o horizonte apertado pelos morrotes do bairro,…
Pintou um clima II
Um teclado verde suspenso no ar. Folhas de todos os tons, formas e combinações. Tocam para os olhos. As da Ameixeira são grossas, verde-escuras, abrem-se em taças. A Manuel-Pintado as tem claras e delicadas; plugadas em caules mínimos, fingem flutuar. Outras, longas e flexíveis, remam o vazio num galho horizontal. As nuvens amarram a luz,…
Vizinhos
O octogenário R. xinga seus seis cachorros por qualquer coisa: se latem, se pulam, se derrubam coisas, a cachorrice que for. Vizinho mais próximo, plantou um pé de camélia na frente da sua casa. -- É a árvore dos abolicionistas, disse, enquanto a Adriana pegava uma muda de babosa que nascia em sua calçada verde.…
Apocalipse vegetal
Meia dúzia de árvores foi ao chão neste início do ano. Um Bugreiro caiu em janeiro, de madrugada, quando Curitiba se desmanchava em chuva, trovões e relâmpagos. Derrubou outra, anônima, e nosso poste de luz. Mais uma, identificada apenas como "a lenha é boa", tombou mas não encontrou o solo, apoiou-se na imensa caneleira que…









