Curto todas

Preciso mandar um torpedo. Fuço os bolsos e nada. O celular ficou em casa. O encontro com um velho amigo dançou. Sem endereço, sem número. Sem chance.

O que não tem conexão, desconectado está. Mudo os planos.

Atualizadas, as pernas me projetam aleatoriamente pelas ruas do centro de Curitiba. Visualizo o Largo da Ordem, curto o cavalo babão, checo os sinais que vêm da praça Tiradentes, e resolvo dar um download na rua XV.

Rola um snapchat nas vitrines da Galeria Ritz, meu rosto funde-se aos de duas polacas de Santa Felicidade. Colo na imagem, enquanto a mais alta das duas descurte, fazendo o sinal-da-cruz. Vazo.

Desembarco na América again.

No calçadão, um combo de gorros andinos e cestos guarani colore os pixels do petit-pavê . Adiante, alguém aciona um controle remoto imaginário e o homem-estátua dourado movimenta a cabeça em câmera lenta. Seus olhos robóticos espiam os avatares dos passantes e coletam nossos dados. E alguma moeda.

O continente se estreita. Meus tênis travam ao pé do Hotel Slaviero. Como um cursor, meu nariz aponta pra Boca Maldita. Um zoom aproxima-me de homens de bem. Pulôveres cinza otimizam-lhes as panças momescas. Viralizam a ignorância com ares socráticos. Mas, na miúda, fazem negócios.

Vou atrás de outro conteúdo. Com uma banda larga nas canelas, finalizo na barão do Serro Azul, perto do obelisco. Paro pra carregar. Mas logo um pop-up asiático abre-se repentinamente: Lanchonete Xing Long. A duas lojas da germânica João Haupt, o estabelecimento chinês fideliza meu estômago. Alguns bites depois estou com um tíquete engordurado nas mãos aguardando a vez de baixar minha sinoiguaria: um pastel de carne.

Mordo a guloseima com prazer. Dentro da Xing, só wi-fi de vento. Em silêncio, mastigo sem cliques e likes. Vai pro Favoritos. E eu, pra casa.

Subo a Nestor de Castro para acessar o Bracatinga. Há um celular com frio perto da Cruz do Pilarzinho. Subo no ônibus. Uma janela abre várias paisagens. Curto todas.

13 comentários em “Curto todas

  1. Amigo querido, só posso dizer que “amei” com emoticon de coraçãozinho…. Poucas coisas me satisfazem mais que a boa crônica… Continue! Lerei todas!

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  2. Genão, adorei. Gostei especialmente ….”Mas logo um pop-up asiático abre-se repentinamente: Lanchonete Xing Long.” Li uma, duas, e na terceira vez as imagens foram surgindo…. no computador e na paisagem da cidade. Muito boa tua crônica.

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