Maior a altura, pior o tombo

Nem tudo cai do céu. Quase nada ou coisa alguma, emendaria um pessimista. Até agora, pois soube esses dias, em uma matéria perdida na internet, que carros voadores, drones e afins em breve estarão liberados para acelerarem seus corpinhos mecânicos acima de nossas cabeças. Na fria Grã-Bretanha, na cidade de Lady Godiva, inauguraram o primeiro Vertiporto do planeta. Nele decolarão e pousarão essas máquinas de ficção científica de onde nunca deveriam ter saído. Caíam melhor no reino da fantasia do que no Reino Unido.

Vertiporto porque as gerigonças subirão e descerão verticalmente. E deram um nome tipo Covid para as naves: eVTOLs. A onda é siglar as coisas, não nomeá-las. Ou melhor, nomeá-las com siglas pra depois a gente ter de explicar seu significado até um dia pegarem como nomes. Ufa! E a sigla resume em inglês isto em português: Aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical (Electric Vertical Take-off and Landing Aircraft). Um misto de helicóptero com drone, em suma. E destinados ao transporte urbano. Urbano gourmet, pois as caranguejolas voadoras levarão no máximo 7 bem-aventurados.

Se você acha que essas coisas vão demorar pra pousar aqui, engana-se. Já decolamos nessa, brasileirada. A Azul e a Gol encomendaram seus Eveteoeles (ou Evetóis?), a Eve, ex-Embraer, está produzindo os dela. Anunciam-se para 2027 os primeiros vertiportos nacionais. Decolarão e pousarão neste país virado em uma locação de filme de faroeste. Em meio a facínoras armados, índios mortos, moças violadas, negros enforcados, os diretores terão de encaixar essa nova invenção em sua filmografia apocalíptica.

Teremos meia década pra imaginar o que será viver num filme de Ridley Scott marquetizado como um desenho dos Jetsons. Sim, esse cenário distópico é apresentado como uma banda de desenho de Hanna Barbera: “Este é o início de uma nova era do transporte, sem emissões de carbono e sem congestionamento dentro das cidades, que tornará as pessoas mais saudáveis, felizes e conectadas”, palavras de um dos donos do aeroporto inaugurado em Conventry.

Não entendi bem por que seremos mais felizes com essas engenhocas barulhentas tapando o sol, a lua e as estrelas. Sem contar que algumas delas poderão vir com armas, como parece ser a nova vaibe verde-amarela. Os dois únicos drones que testemunhei voar soavam como um cortador de grama de hélices. O primeiro encontrei depois de vasculhar por uns minutos o céu do Pilarzinho. O aparelho zurrava acima das casas vizinhas. O outro observei tirando fotos como um besouro bressoniano. As empresas de delivery já estão testando esses insetos metálicos para substituírem os motoboys. Sai o homem, fica o zumbido.

Daqui a meia década caminharemos com capacetes. As chances de as coisas caírem do céu irão se multiplicar. Mas desta vez não trarão sorte, mas um traumatismo craniano. Até cair das nuvens será mais difícil, como aconselhava um escritor carioca oitocentista, pois correremos o risco de magoar a alma numa hélice do I-food.

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