Mas de que serve, calejada leitora, calejado leitor, escrever sobre uma esponja velha quando ontem morreram mil pessoas e amanhã morrerão mais mil? Enternece-me a esponja velha. A que singra litros de gordura animal, percorre quilômetros de fibras vegetais, esfalfa-se em meio a arrobas de farinha de todo grau e, molenga, aporta na praia. A…
Crônica;
Não vai colar
Não me conformo é com o sarcasmo: pregar a sentença de morte no corpo da sentenciada. Ministério Público Estadual do Paraná manda suspender o corte de 231 araucárias em Cascavel. Pretendia-se abater mais de duas centenas de árvores no meio da pandemia. Agora, em maio. Meses antes, em janeiro, 4 mil "exemplares arbóreos" no Jaraguá,…
Leminski Road
Gosto de pensar que os aclives e declives do bairro tenham se infiltrado nos versos que o poeta escreveu por aqui de 1976 a 1988 Esta crônica começa pendurada na anterior. Segue pelos despenhadeiros do Pilarzinho. Se você chegou agora ao Letra Corrida, alcoogeleizada leitora, alcoolgeleizado leitor, Pilarzinho é um bairro que escapa para o…
A rua da minha aldeia
O nome esquisito da rua vem da leva de alemães que povoaram os ermos daqui. O homem anda. Com sílex, facão, peixeira, foice ou retroescavadeira, esse bípede sem plumas abre carreiros, boqueirões, veredas, trilhas, sendas, sendeiros, vielas, vias, ruas, estradas e autopistas. Ou mesmo binários, rápidas e trincheiras, variantes curitibanas. Mas o hábito de andar…
Alcoolgeleização da vida
O cronista busca assunto em meio à quarentena provocada pelo Covid-19 Nada pior para uma cronista do que não poder sair de casa. A menos que ele seja um Rubem Braga ou um Drummond, cujas vidas são uma Beijing de histórias. Pra você ter uma ideia, confinada leitora, confinado leitor, num mesmo livro* o cronista…
O moinho e a bala
Dando tiro pra tudo quanto é lado, o povo da rua vai tentando driblar a mó que há séculos os tritura sem descanso. De uns tempos pra cá o povo da rua tá bombando. Mais gente dormindo na calçada, mais homens e mulheres e crianças vendendo frutas, legumes, protetores de celular e – acima de…
EFZIL 0202!*
Meu 2020 abriu o bico. Não no dia primeiro, mas na segunda semana de janeiro. Estava no escritório quando estalidos no vidro ouvi. (Soava tudo meio como o I-Juca Pirama). Eram bicadas. Em tupi. Virei o pescoço na direção das pancadas e vi o pássaro admirável. Um tucano. Solto, livre, dando um tempo no parapeito…
Viscôn…
Imagem: Google Maps Curitiba esconde-se atrás da neblina. A névoa gelada expele os poucos pedestres que circulam pela calçada da Marechal Floriano. Caixas de som da farmácia Unipreço tentam a todo custo capitalizar a manhã. Conclamam as raras almas passantes a comprarem uma droga qualquer. Pesadíssima, suponho. Entre esses espíritos estou eu, descendo a Marechal.…




