Nao foi fácil pisar em 2022. Tipo tocar os pés pra sentir-lhe a temperatura. Seguir ou não seguir adiante? Tenso, pois quando tudo parecia que ia dar certo, arruinou. A ômicron fulminou com o barato da volta às ruas uma semana depois do réveillon, contaminando meio mundo literalmente e derrubando carnaval e afins. Não bastasse…
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Passeio Público
Domaram o passeio público. Sumiram com os pedalinhos, com a bicicletaria e o restaurante Pasquale. O prefeito vetou a cerveja e a caipirinha que tomávamos em frente ao lago. Há pipocas com bacon, balões e balanços para as crianças. Não vi putas nem michês. Talvez estivessem atendendo clientes. O povo da jogatina lixava com cartas…
O amigo colombiano
Um colombiano esguio como uma escultura de Giacometti abordou-me num domingo à noite. Escurecido pela pátina que a cidade lhe deposita todos os dias, pediu-me alguns trocados. Éramos ele e eu na rua vazia. Manteve-se à distância, à espera da minha devolutiva, fixando os olhos numa roleta imaginária onde giravam as palavras sim e não.…
A demanda das ruas
A rua respira de novo. Meio abafada pelas máscaras, meio arranhada pelos olhares assustados dos passantes, ela reaprende seu idioma e recupera a alma encantadora, como escreveu o cronista carioca. Retomei, então, minhas andanças pela cidade e dei com canelas, tornozelos e calcanhares na Travessa Tobias de Macedo, no centro de Curitiba. Procurava um acessório…
Ciclovias nunca antes pedaladas II
Sobranceiro, fornido e vermelho, crescia à frente o biarticulado do Guabirotuba. A coroa da roda traseira da bicicleta travara, só deu tempo pra saltar pro meio fio e ver o transatlântico urbano abrir em dois o ar gelado da manhã curitibana. Um grande susto, só que não. Na real, juntei dois eventos de uma pedalada…
Ciclovias nunca antes pedaladas
Pedalei como um remador de galés dia desses. O Tonico que me arrastou pra essa travessia ciclística. E a maré não estava nada favorável: fazia um frio islandês e uma garoa vassourava nosso rosto de quando em quando. Saímos do Pilarzinho rumo ao Jardim Social com destino ao Bosque de Portugal e ciclovias além. De…
Cancílio da Exanção
O ar cospe leões desdentados. Beletristas carregados na peruca comandam os destinos da republicareta nacional. Guias desmusculados marcham, chapadões, no planalto central. Há uma manada raivosa na loja de louças da democracia brazuca. Mergulhamos num exílio mental. Todo dia pingam uma gota lisérgica em nossa água. A última nos levou a testemunhar o rei da…
Em busca do calor perdido
Caminhava para exorcizar o frio que me sorveteava os dedos dos pés. A elegante luz de inverno compensava os minguados graus célsius daquela manhã. A ideia era fustigar ossos e músculos em busca do calor perdido. Incendiado pelo objetivo, desci a rua de casa rumo ao Bosque do Pilarzinho. Movia-me também o propósito andar a…
De galho em galho
Ouvi um estalido. Outro. E um ploft! em caixa alta. Olhei pela janela e vi um senhor galho caído sobre a cerca do terreno. Desbeiçou o emaranhado de arame que grampeia o limite de nossa propriedade. Demoramos para tirá-lo dali. Teve de esperar a passagem de 2020 para 2021, até conseguirmos aterrissá-lo definitivamente. Parte dele…
Rescaldo
Última crônica do ano, persistente leitora, persistente leitor. Nesta página que encerra o malfadado-xô-capeta-vade-retro-inominável 2020, fica o rescaldo das histórias não publicadas no Letra Corrida. Se a crônica sumir do mapa -- como andam dizendo por aí --, deixo ao menos as pistas do que poderiam ter sido mas não foram. Bacia do Rio Barigui;…







